Conectividade versus Comunicações

Parece que surgiu uma verdadeira indústria especializada, na qual diversos fornecedores vendem rádios para radioamadores, radiocomunicadores de uso geral e recursos semelhantes como ferramentas de preparação. Pesquise no YouTube usando termos como “prepper” e “comunicações” e você encontrará centenas, senão milhares, de vídeos que promovem várias soluções de comunicação, muitas das quais focam no radioamadorismo. Infelizmente, pode-se argumentar que muitos desses vídeos e argumentos de venda se assemelham ao ditado “um cego guiando o outro”.

Há muito o que se dizer sobre a importância de estabelecer alternativas de comunicação que apoiem a preparação de bairros e comunidades. Grupos de preparadores e sobrevivencialistas pensam muito no termo teia. Ter uma teia composta por pessoas que pensam da mesma maneira e estão igualmente dedicadas e preparadas pode ser algo muito positivo, especialmente se os participantes forem todos sensatos e igualmente comprometidos com a preparação e sobrevivência. Não nos aprofundaremos mais nesse assunto, exceto para afirmar que desenvolver a capacidade de se comunicar em caso de interrupções na rede celular e na conectividade local/regional de internet é uma etapa prudente de preparação. Portanto, vamos examinar as reais necessidades de comunicação para o programa de preparação de uma pessoa.

A maioria das comunicações é local:

Essa afirmação não deve ser uma surpresa. Isso foi comprovado ao longo dos 175 anos de história das telecomunicações. O volume de tráfego de comunicações em redes locais é tipicamente maior do que em circuitos de longa distância. É simplesmente um reflexo da natureza da hierarquia social. Em uma situação de SHTF, as circunstâncias geralmente ditam que os problemas locais sejam resolvidos primeiro. Por exemplo, se for necessário solicitar ajuda, a pessoa a quem você pede assistência deve estar perto o suficiente para fornecer a ajuda necessária. Como resultado, a maioria dos membros da teia de um sobrevivencialista não precisam ser operadores de rádio. Recursos comuns, como radiocomunicação de uso geral, faixa do cidadão, geralmente são mais do que suficientes para cobrir o terreno local. Até mesmo recursos de fio rígido, como telefones de campo, podem ser utilizados entre casas ou instalações próximas.

O processo de gateway como multiplicador de força:

Se uma teia estabelece uma rede de comunicações local usando tecnologia comumente disponível e barata, as mensagens que saem da rede local podem ser transferidas para a infraestrutura nacional/internacional por operadores de “gateway” com capacidades de longa distância. Um a três operadores (para redundância) em um grupo que tenham a licença, o treinamento e o equipamento necessários para se comunicar a longas distâncias podem mover o tráfego de mensagens entre a rede local e os serviços de infraestrutura de longa distância. Por exemplo, se alguém no seu grupo de preppers precisar enviar uma mensagem para um parente a 1600 quilômetros de distância, ele simplesmente formata um radiograma, transmite-o ao operador do gateway, e este último o injeta na rede de longa distância.

A função de gateway é um simples processo de multiplicador de força, que permite que todos em um grupo enviem e recebam mensagens de média/longa distância, mesmo que não tenham interesse em sistemas de comunicação como hobby ou vocação tecnológica. O processo também não é economicamente regressivo. Afinal, há uma grande diferença entre o custo de um rádio faixa cidadão (px) ou radiocomunicadores de uso geral novos ou usados e um transceptor de rádio moderno e o equipamento associado.

Requisitos de gateway:

Embora impressionantes e elegantes, os rádios HF e recursos semelhantes, com sua capacidade de se comunicar a longas distâncias, têm pouco valor se as comunicações com pontos distantes forem estabelecidas aleatoriamente. Em outras palavras, mesmo com capacidades de rádio HF, algum tipo de infraestrutura padronizada projetada para encaminhar e rotear mensagens de forma eficiente para seu destino é necessária. Para esse fim, pode-se usar o Winlink (e-mail por rádio), a RRI Digital Traffic Network, ou redes de tráfego em modo manual usando CW, SSB ou vários métodos digitais de banda estreita. Cada método oferecerá vantagens e desvantagens, dependendo das circunstâncias e dos requisitos operacionais. Esses prós e contras estão fora do escopo deste artigo, mas é suficiente dizer que a capacidade de trocar relatórios de sinal com estações aleatórias ao redor do país NÃO é o mesmo que transmitir mensagens de registro com rapidez e precisão para um terceiro a 300 ou 3000 quilômetros de distância. Para isso, não só é necessária infraestrutura, mas também treinamento, o que nos leva ao nosso ponto final…

Conectividade NÃO é o mesmo que comunicação:

A comunidade sobrevivencialista, e até mesmo alguns voluntários de comunicações de emergência de radioamadores, tendem a perceber as comunicações em desastres de uma maneira “quebrar o vidro em caso de emergência.” Usando uma pitada de imaginação, o “radioamador” é um objeto semelhante a um extintor de incêndio em um espaço público. O “radioamador” (substantivo) fica em uma caixa vermelha com a etiqueta “quebrar o vidro em caso de emergência.” Na fantasia mental do prepper, ele simplesmente quebrará o vidro, ligará o rádio e começará a se comunicar. Infelizmente, a “realidade morde.” Pode-se garantir que 100% das vezes, as comunicações dos preppers sofrerão de várias maneiras. Mensagens chegarão distorcidas, conteúdos estarão ausentes, suposições sobre o conteúdo serão feitas, e erros fatais nas mensagens, táticas ou de registro, dificultarão a resposta organizacional. Em outras palavras:

A CAPACIDADE DE ESTABELECER CONECTIVIDADE NÃO É A MESMA QUE A CAPACIDADE DE COMUNICAR!

Construindo habilidades e comunidade:

É esperado de todos que participem de uma rede local de sobrevivencialistas devem estar familiarizados com os procedimentos básicos de comunicações radiotelefônicas (voz). A capacidade de usar corretamente as prowords (“palavras de procedimento”), a capacidade de usar o alfabeto fonético da ITU para soletrar e decodificar palavras complexas, a capacidade de manter um registro simples das comunicações táticas, e a capacidade de transcrever uma mensagem com precisão e completude por escrito em um formulário de mensagem NÃO são opções. Elas são habilidades essenciais, que só podem ser desenvolvidas através da prática, e sem essas habilidades, QUALQUER rede de rádio rapidamente diminuirá para um nível fatal de ineficiência.

Os participantes da rede local devem praticar o formato, a transmissão, o recebimento e a transcrição de mensagens simples de radiograma. O nível de prática deve ser frequente o suficiente para garantir que as habilidades básicas de comunicação sejam automáticas sob estresse. Lembre-se: se alguém está se preparando, é lógico que esteja se preparando para um evento sério, se não catastrófico. Comprar um rádio portátil Baofeng ou conversar em um canal de rádio não faz de alguém um comunicador.

Além de fornecer treinamento, redes de rádio organizadas constroem comunidade. Os participantes passam a se conhecer. Confiança é estabelecida. O conhecimento da confiabilidade e do nível de habilidade dos participantes é obtido. Essas são informações essenciais em uma emergência.

As mesmas regras se aplicam à operação de longa distância. Não só é necessária infraestrutura, mas também é preciso saber navegar efetivamente nessa infraestrutura. A falta de uso regular da infraestrutura de longa distância ao participar de redes utilizando vários métodos diferentes de comunicação (para redundância) criará dois problemas fatais, um dos quais afeta o originador da mensagem e o outro afeta toda a operação da rede. A presença de indivíduos não qualificados e sem prática nas redes de rádio é como jogar areia em uma máquina bem lubrificada. Apenas alguns “especialistas em Baofeng” podem rapidamente fazer uma rede de rádio ocupada parar. O resultado é que todos que usam o serviço de infraestrutura, como uma rede de tráfego, pagam um preço sério.

Não há substituto para as redes da RRI (Radio Relay International):

Se você leva a sério as comunicações prepper, não há substituto para participar de redes de tráfego estruturadas de maneira adequada e com qualidade profissional. Isso significa originar, transmitir e receber mensagens de radiograma e radiograma-ICS213 regularmente. Isso significa estabelecer uma conexão confiável com a rede sob uma ampla gama de condições de propagação de RF. Isso significa desenvolver a capacidade de manter um registro completo do rádio. Isso significa manter um arquivo de referência de tráfego de mensagens transmitidas e recebidas.

Por fim, embora encorajemos a participação nas redes da RRI, também incentivamos a diversificação. Pratique usando o Winlink. Realize exercícios e simulações em que o tráfego de mensagens de registro seja transmitido na sua rede local. Use redes de rádio regularmente em condições de rotina ou para atividades do dia a dia para que o processo de comunicação seja automático e natural quando o SHTF acontecer.

Nunca se esqueça de que o ato de comprar um rpadio não é o mesmo que se engajar na ARTE do radioamadorismo. Desenvolva as habilidades necessárias, compartilhe-as com sua equipe e garanta que todos os envolvidos possam se comunicar de maneira eficiente. Não deixe que algum “especialista” auto-intitulado nas redes sociais o convença de que possuir equipamentos é a chave para a preparação em comunicações. Sem conhecimento e habilidades, o equipamento de rádio será tão valioso quanto um tijolo.

Texto original: Prepper Comms: Connectivity versus Communications