Relato de Operação de Radiocomunicação em Situações de Emergência

Prezado leitor,

Este texto tem como objetivo relatar a experiência do autor e as características de uma operação de radiocomunicação em situações de emergência, especificamente no trabalho realizado durante a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul no ano de 2024. Questões relacionadas a logística das operações de resgate em geral, sobrevivência, atuação do governo e similares não serão abordadas neste post.

No dia 05/05, parti para o Rio Grande do Sul, juntamente com o grupo de resgate do qual faço parte. Lá, passamos 3 dias em operação, nos quais realizei comunicações via rádio com outros radioamadores e membros da equipe. Atuamos na região de Canoas, baseados próximos à Arena do Grêmio, atendendo a chamados nos bairros Humaitá, Vila Areia e Vila Farrapos.

Os contatos eram realizados nas faixas de radioamadorismo e de “FRS”. Os pedidos de ajuda que chegavam até mim partiam de um “grupo” de radioamadores que estava gerenciando a situação, minimizando o caos na frequência. Os pedidos vinham de diversas origens (WhatsApp, defesa civil, parentes de vítimas, FNC).

Como membro da equipe, meu objetivo principal em relação à radiocomunicação era suprir as demandas internas da equipe. No entanto, ao chegar ao local e analisar a situação diante do caos instalado, realizei dois papéis: dei suporte de rádio para a equipe e integrei a rede de comunicação na Frequência Nacional de Chamada (146.520 MHz), destinada ao uso dos radioamadores.

O fluxo de comunicações na FNC (146.520MHz) estava bem organizado graças ao trabalho dos colegas que atuavam ali. Infelizmente, lembro-me apenas dos nomes de dois radioamadores (Fernando e Simões), mas eram quatro, até onde me lembro, atuando no meu raio de alcance, todos em localidades diferentes, cinco contando comigo. Esses quatro radioamadores mantinham a situação organizada, pegando os pedidos, organizando e despachando para as regiões onde havia radioamadores que pudessem transmitir o pedido de ajuda a quem pudesse atender, como foi o meu caso. O que chegava de pedido de resgate para nossa localidade eu direcionava para a equipe do barco.

Nosso contato foi realizado sempre em simplex (contato ponto a ponto, sem uso de repetidoras), tanto com os radioamadores quanto com a equipe de resgate em “FRS”.

A segurança na região quanto à criminalidade era bem crítica, além de ficar muito perigoso ao entardecer, havia vários relatos de barcos sendo abordados por criminosos armados. No primeiro dia, membros de nossa equipe escaparam por sorte desses criminosos; eles vinham em direção ao barco quando, por sorte, um bote com policiais da polícia civil passou próximo e os intimidou.

Por último, e não menos importante, tivemos também o apoio de um grupo de policiais da PRF que nos ajudou com questões de segurança da tenda/base e segurança dos barcos na água. Um barco da PRF também ficou de apoio conosco nos pedidos de ajuda. Para que isso ocorresse de forma mais otimizada, um policial ficou comigo na base para que fosse feito o QSP (ponte de comunicação) para o barco da PRF na frequência de uso exclusivo deles com as demandas que vinham através da FNC.

Algumas Considerações e Materiais Utilizados

  • Rádios: HT’s de VHF/UHF além de rádio base VHF/UHF;
  • GoBox: Sistema de radiocomunicação móvel completo, contido em uma maleta;
  • Plano de Ação: Tenha sempre um plano de ação/protocolo bem alinhado com sua equipe, caso a comunicação via rádio (ou qualquer outro meio) falhe;
  • Equipamentos e Baterias: Tenha sempre seus equipamentos e baterias prontos para uso. Nunca espere uma emergência chegar para se preparar, pode ser tarde demais;
  • Levantamento da Região: Sempre que possível, faça um levantamento da região onde irá atuar (repetidoras analógicas e digitais, cobertura APRS, topologia, entre outros);
  • Material de Anotação: Altamente recomendado para registros pessoais e informações recebidas;
  • Conhecimento do Equipamento: Conheça bem as funções e recursos de seu equipamento para que possa extrair o máximo dele a seu favor;
  • Comunicação Curta, Clara e Objetiva: Além de tornar a comunicação mais eficiente, ajudará na economia de bateria;

Saudações e um forte 73!

02/08/2024
Davi Lopes – PU5ABQ